sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Azul é a Cor Mais Quente / Represália contra a poesia

Azul é a cor mais quente

Represália contra a poesia



Irã proíbe a divulgação da obra da tradutora para o persa de ‘Azul é a Cor Mais Quente'

História em quadrinhos conta a história de amor de duas mulheres



Imagens da versão persa de ‘Azul é a Cor Mais Quente’, de Julie Maroh.
Sepideh Jodeyri (Ahwaz, Irã, 1976) é poeta, tradutora e censurada. Depois da revolução verde iraniana de 2009, na qual se envolveu ativamente — o movimento dos cidadãos contra as irregulares eleições presidenciais que deram a vitória a Mahmud Ahmadinejad —, deixou o país num desses êxodos forçados pelo temor que a dissidência lhe custasse caro. Agora, perde sua poesia. Ou melhor, é banida. E não porque as rimas sejam ruins, mas porque Jodeyri traduziu ao persa a história em quadrinhos O Azul é a Cor Mais Quente, uma história de amor entre duas jovens lésbicas que foi publicada em uma dezena de idiomas e adaptada ao cinema, lançado no Brasil como Azul é a Cor Mais Quente, e vencedor da Palma de Ouro, no Festival de Cannes, em 2013.

Em 28 de janeiro, Jodeyri recebeu uma ligação de seu editor em Teerã, dizendo que o evento programado para o dia seguinte para promover seu último livro de poemas, And Etc., havia sido cancelado. Quando lhe perguntou a razão, o editor recomendou que ela navegasse pelos sites da mídia conservadora. “E encontrei artigos radicais escritos contra mim. Eram especialmente críticos pelo fato de que um estabelecimento oficial (um museu) estava recebendo convidados para analisar os poemas de uma autora que tinha um histórico de apoio ao movimento LGBTQ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Queer)”, afirmou Jodeyri por e-mail de Praga, onde mora com sua família.
A mídia conservadora recriminava o novo ministro da Cultura por ter permitido a publicação da obra, e exigia a suspensão do evento. Segundo Jodeyri, “o serviço de inteligência interveio de imediato e cancelou o evento; o diretor do museu foi despedido; o Ministério da Cultura questionou meu editor, e suspendeu a licença do meu livro”. A partir de agora, And Etc. não poderá ser distribuído, e ninguém mais vai se atrever a publicar outros títulos da autora. “Até a mídia reformista do Irã retirou as entrevistas que havia realizado sobre meu novo livro de poemas, e o mesmo ocorreu com as críticas literárias sobre o meu trabalho. Parece que tanto minha caneta quanto meu nome foram proibidos na minha terra”, lamenta.
Ironicamente, a represália contra Jodeyri pune a tradução de uma história em quadrinhos que nem sequer foi distribuída no Irã. A versão persa de Azul é a Cor Mais Quente foi publicada em Paris. “Mas agora sei como os fundamentalistas iranianos são vingativos. Esperaram até o momento do meu editor promover meu último livro de poemas, e então atacaram!”.
A ofensiva contra a tradutora alarmou Julie Maroh (Lens, 1985), a autora da história em quadrinhos, que divulgou o fato em seu site. “Devido à situação e a dimensão que ganhou, não há dúvida de que ela estaria presa se estivesse agora no Irã”, conta por e-mail. “É um fato terrível que faz com que as pessoas vivam com medo, e ninguém deveria aceitar viver assim.”



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